Areia
empapada chega com a brisa quente.
Quer se
arrepender agora?
Que seja:
o universo
já não é mais seu nem nosso.
Seguimos uma
viagem sem algum caravansarai para repouso.
– Eu estava
onde os ventos mudam suas direções,
negociando
corredores de labaredas perfumadas,
girando a
roleta dos continentes e oceanos.
Somente o
poeta tem como pátria a tempestade
o vento que
faz a rede fina cantar canções de nenhum nino,
ter a
obrigação de desobrigar o silêncio
descobrir a
estrela das solidões como juramento de sangue
ter em cada
dente uma espada que fere
e leva a
bandeira do oprimido,
estar sempre
do lado errado e errático da existência,
e as
palmeiras fazendo alas de oásis
são o
correto segundo que a aventura vive.
Ter do
insulto
a certeza do
sal,
logo eu que
fascinei na tempestade
urrando de
prazer para quando os mais próximos trovões ribombavam!
Eu que
perambulei pelas ruas das rosas
e vi
nas damas
ganhando a vida
os mais
claros sinais apartando-me do real.
Se há uma
estrela de asas no firmamento
das muretas
dos mares,
que seja
pelo menos uma parte de mim
em cada
parte de todos os portos do mundo.
E quanto a
rosa,
a rosa ruma
beijando tormentas,
ondulando
aos ventos rubros do entardecer
que era e é
noite,
levanta os
homens de suas salas importantes
tanto quanto
âncoras sem navios,
rosa-se de
feridas e de prantos
fecunda a
ira do explorado na noite hóspede
argila que
cresce secreta e comigo,
do dia em
que o lavrador cansa e se abandona,
cristalina
rosa que traz unguento profundo para minhas palavras usadas,
sonhando
salvar a raça inteira,
que ela
mesma não quer ser salva de nada:
eis aí o
poeta.
Areia
empapada chega com a brisa quente.
30/jan/14
A. Nassaralla