aqui, pode o pier se dar conta de sua linha reta
dentro do
escuro.
O último
acorde do verão
entra cheio
de dissonâncias e encontra
o céu férias de menino
o céu férias de menino
para quem as
canções eram perfeitas e dispensavam destinos.
Para ser de
acordo tácito,
o mar e as
pedras do pier dramalhão
arrebentam-se,
última lambida
que sobe pulverizada
aos ares
e aterriza
como chicote no solo.
As ondas que
estouram na pedraria
fazem sua
parte e vão encurtar distâncias
que buscam
ilusão e trapaceiam
à vista dos
barcos constantes do horizonte.
Quantas
distâncias para purificar os ditados da tarde
– que cai – e a partir do leste,
o escuro vai
engolindo
gentes,
casas, areias, mato
e cospe o início
ofuscante das estrelas,
desenhando
arcanjos
e a lua
escarpada que aparece círculo corcunda
na
perspectiva apoiada da quina mais alta do muro baldio.
Do outro
lado, n´oeste
há
vermelhidão e o sol cabeça a prêmio:
restolho do
dia.
Do lado de lá,
oeste cabaneiro
desfraldando
suas velas em busca de um sempre sol adiante.
Para quem
fica, a lâmina do anoitecer avança pelas planícies,
e vai
comendo gramados, plantações, águas, morros
toca harpas
limpas sobre tanta coisa que falta:
troca o
arvoredo por uma massa cinza de escuro.
Por fim,
as pálpebras
do verão deixam ver a faca
perecível
dos ventos,
o baço das
esperanças da cor de madeira lírio,
e o líquido
das frutas que inundam os armazéns portuários,
porque
zombam da pureza e da destreza descalça,
estação do
sul em lento apodrecer junto à fina casca
de seus
amantes.
E quanto a
pertencer, fico aqui
no escuro
pier polvilhado de galáxias.
Anjos de
mãos dadas
tocam por
dentro da hora,
herdam o
mapa rascunho e rasteiro do céu.
E eles me
dizem: ‘Somente o tempo dirá’.
Somente o
tempo dirá,
e em partes
separadas estarão aqueles que vieram e disseram,
daqueles que
se inflaram como balões cheios de vazios coloridos.
E eles, os
anjos de mãos dadas
também dizem
que eu – e os corajosos – ainda estaremos por aí,
por muito
tempo depois que nos formos.
Enquanto
isso, iscas de plástico, varas de pescar, estrelas,
sonhos,
cabeças de peixe
e muita onda
a estourar para sempre no pier dramalhão.
14/março/14