quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

PLANO DE ANO NOVO

(Para as mais de 500 crianças palestinas mortas em outubro de 2014 contra a mídia sensacional feita para 12 jornalistas franceses mortos em atentado)




Mesmo que vivamos em um tempo 
onde é normal separar o fim do começo,
as consequências das causas,
o girassol sorri imenso
cigarras benzem quase mortas
estrelas abrem temporada de caça:
caça a complôs que a tarde penetra.

Bendita aninhagem das borboletas pretas grandes
que abandonam casulos fervendo dezembro:
já vi três delas nos últimos dois dias
enquanto a lua fazia brinquedo da tarde.

Sol de secar limo dos cantos e dos muros,  
estou novamente estranho
se estranho fosse como deveríamos ser 
sempre que em estado de voo entre platôs.

Como queria saber voar.
Iria voar até despencar de cansaço!

Sei que o desejo
me banha com cheiro de mar do porto
e é ali que todos os defeitos do mundo desembarcam:
sedentos marujos e lâmpadas rarefeitas, 
amantes extirpados de pudor
os vícios bebendo da papoula
armazéns até o teto de sonhos poemas
mercantes matérias-primas.

- Quais serão as armas de calar Novo Tempo?

- Quais serão as nuvens de tapar céu anil arrombado?
Preciso de espaço para buscar os pulmões 
das páginas abertas no horizonte.

Digo alto: 
_ Para o espaço com a melancolia
ou pelo menos, 
saber que na rosa, 
orvalho e espinho têm o mesmo dom.

Para meus planos de rotas e navegação, 
não tenho nada.
Abandonei-os todos feito folhas secas voando,
filhas bailarinas no torpor da tarde 
no abono do pudor 
feito a palmeira soberana de lustrar o sol 
no alto de sua copa.

Como plano,
só quero um delicioso nome de cor delírio 
ou as gotas de chuva nos verões para sonhar
ou os olhos vulneráveis da fêmea vento molhado.

Como plano,
esperança das capas de sementes à mão
tirando as teias da verdade empoeirada
um céu de poesia emancipada
um ser humano pronto para aprender a linguagem do universo
a usura e ganância desbancadas sem cerimônia.

Observe:
ninhos novos sempre virão. 
Se vespeiros,
vespertino cata-vento
que gira com o vento jogado fora.

Crianças jogadas fora.     

Pergunto:

- Quais serão as armas de calar Novo Tempo?

- Quais são as armas de calar ?


Alvaro Nassaralla
13/jan/15