sexta-feira, 12 de junho de 2015

Arma Branca

Novamente aqui no Tardes, o desafiador poeta Pedro Muniz Eugenio. De Niterói, cidade irmã, ele dedica seu novo poema a Luciano Huck e Angélica.






ARMA BRANCA

Pedro Muniz Eugenio


Nasceu de costas para cá
Berço de ouro, peruca, terras, fortes,
Hoje, essa geração é dono de resorts
Trabalhadores...
Há quase dois séculos eram doutores
donos de tudo até das almas dos pretos e pretas que eram
Maioria.
Que frustração chegar aqui hoje ainda buscando minha "Carta de Alforria"!
Aqueles que nunca precisaram dela passam na frente do SUS, mesmo sendo só um susto.
Ahhh nós, só resta ver esse caldeirão de vaidades transmitido por todas as mídias
patronais.
Ehhh como escolhi não fazer coro com boçais e chorar por "desastres" banais,
Só me resta lutar até ao final da vida para destruir esses grilhões
Que teimam em ser perpetuados pelos maiorais.
Lembrem disso, a mídia patronal
NUNCA deixará de ser patriarcal
A todos cabe nos rebelarmos contra o silêncio dos acomodados, para que futuramente
Não sejamos NÓS os frustrados e ensanguentados mortos apenas porque não habitamos 200 metros quadrados
Ou passarmos boa parte da vida alienados desejando acumular cédulas ao invés de saúde e felicidade ...
Morrendo como desesperados tentando sobreviver a essa barbaridade
 

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Bandeira dos degenerados

A. Nassaralla
(03/junho/15)

 
Muitas das prostitutas de rua que conheci 
tinham bom coração e não eram degeneradas. 
Degenerados, sim, os que lhes pagavam o aluguel de cona, carne e músculos.

Muitos soldados foram à guerra porque acreditaram nas mentiras oficiais 
e outros ainda, nem sabiam por que estavam lá. 
Muitos tinham bom coração; 
diferente dos canalhas que insuflaram as guerras em busca de lucro.

Mas não esqueçamos também dos degenerados iluminados, 
Cazuzas, Blues Boys, Gregórios Boca do Inferno, 
Baudelaires, Rimbauds, Kerouacs, Bucetovicks, Bocages
anjos decaídos desembarcando strip teases de família
na luta da lua parida no cais de agora:
malditos que se atreveram a surtar
e intimidar o sistema, 
botar o dedo na cara das leis, 
andar nas margens, 
perder a conta dos entreveros com os mais recatados costumes pequeno burgueses, 
como Gregório de Matos acusando o oportunismo do governador, 
a bem dizer, nas suas palavras, 
de 'come cus de becos', 
na cara lavada, na luz do soneto.

E o que pensar sobre Jesus entre prostitutas, jogadores, escórias, rejeitados e cafetões?

Quem ė santo e quem não ė?

Quem jura em falso e planta o verso azucrinante?

Quem pode alimentar o mundo de mundos regenerados?

Seriam as crianças num mundo livre de famílias - sem pais e mães, 
seriam os poetas autodestrutivos, 
seriam as madames nas butiques, 
seriam os catadores de lixo hospitalar, 
seriam os fascistas, os banqueiros 
ou, ainda, seria você, são, inserido e integrado nessa loucura chamada século 21?

Vamos: Quem se atreve a arriscar?

quinta-feira, 4 de junho de 2015

TAL QUAL CORDA BAMBA














 
TAL QUAL CORDA BAMBA
Diego El Khouri (Goiânia - GO)

eu atravesso oceanos
na calda de ninguém
mamute que destroça cimento
nos dentes de marfim no ouro de alguém
eles são fuzis
fezes
sangue coalhado de criancinhas famintas
acolhidas pelo crack
lembro muito bem
aquele inverno de 2004
porres incompletos, beijos frívolos
Rimbaud sobre a mesa
e paredes
muitas paredes
se fechavam cada dia mais
pela masturbação proferida a ti
naquelas madrugadas
de torcicolo brutal
eu agarrando estrelas
numa minúscula cama suja de sêmen e bílis
tal qual corda bamba
cometas em festa comum

ah madrugada!!
o que poderia dar a ti
se de mim roubaste tudo?
lamentaste a sina bandida
que és
levaste tudo embora
inclusive meus crimes
e as dívidas de mercado
para sucatear meus sonhos
que viraram cicatrizes na barriga
e apendicite supurado

são inconfundíveis
os olhos dessa terra
esses meninos nos sinais
a implorar migalhas
que a sociedade atropela

corpos descartados
deixados de lado
minoria nojenta
fede e tritura
qualquer pensamento
de libertação

ah madrugada
dos sonhos impossíveis
trouxeste a quimera que pedi?
quero sexo em ventre e alma
a tentação me veja como alvo

e me beije a face mil olhos
de vulcão, tempestade, estrelas
é tudo a mesma coisa
o mesmo cheiro

pelos, entranhas
língua na língua
descobrir teu corpo
alimentar tua sina

ó madrugada linda
que clareia meus olhos
és amor e paixão
misturadas com fogo e pele

nos marcaram como gado
trataram de espalhar nossas dívidas
nos apunhalaram pelas costas
e rasgaram nosso tratado
vilmente sem repeito algum
a nossa história

madrugada insonsa
covarde
as palmas de minha mão
cobrem orelhas
ajoelhado no centro da cidade
uma chuva torrencial
lava meus cabelos e minha alma

não há motivos para acreditar
no pai nem no estado
me fala a luz dos semáforos
repleta de mentiras e sonhos

não creio em inferno ou pecado
a poesia comportada
muito menos em gêneros comprados

porta voz das portas escancaradas
e venenos tóxicos
eu desafio as regras lambendo feridas
desconexas
do outro lado da moeda (!!!)
(ninguém me ouve ninguém me vê)

assim espero.