domingo, 29 de novembro de 2015

Lampejos - Hani Hazime


 
LAMPEJOS
(Hani Hazime)

- Coitado o homem, gente de bem
Ele pensa que preenche a mulher
Ao contrário do que ela quer: um só refém,
Ou um tapa-buraco, de seu prazer
- Por todos, é escolhido o homem, pela mulher
mas o homem, escolhe todas, por uma sequer
- Entre CPI e medidas legislativas
Mescla-se tudo, para fazer pizzas
- O patriota idiota, o nacionalista ufano
com voz alta grita:
O país é meu patrimônio
- Quando a morte me tenta, em seu negrume
Embora morrendo, continuo sendo, Hani Hazime
- Porque as flores, não chegaram a tempo
Nosso amor, virou simplesmente, um contratempo
- Liberta já, o teu cabelo
E me concede, um momento de anelo
- Ergue a lona do teu corpo
Sou acrobata que sempre salta a tempo
- Ela procura, o elixir da vida, na calada
E ele quer, o regalo no embalo, e a balada
- Os votos eternos, são selados nos lábios,
Pelos beijos, bem ternos
- A beleza dura pouco, não resiste ao tempo, tampouco
O amor é forte, só acaba, com a morte
- A lágrima da mariposa
Pairou na noitada, e decaiu na alvorada
Bem na palma da rosa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Cais Baldio: De olho no que ninguém quer ficar

Foto: Blog Tardes Poemas

CAIS BALDIO
(Alvaro Nassaralla - 17/Nov/15)






"Você adora as folhas que caem
no lago escuro
este é o banquete do poeta
sempre
querendo
penetrar
no caroço
da verdade".

ROBERTO PIVA




Cais baldio
vida maruja
sentença sem importância.
Fluxo e refluxo
como se somente o orgasmo de cartas marcadas,
as manchetes manchadas de vícios
e as premissas promíscuas de nome vida
pudessem afugentar crianças mandonas
e elizabeths rainhas de tronos e edredons piratas.

Assim sendo, anuncio o desleixo dos poetas
aqueles que conversam a prosa do estivador, do mecânico,
dos baixios e das alcovas,
e descem aperto à chave 13 de boca e estria na prosopopeia
oficial das faxinas empurronas de caixas e sujeira
para o fundo das oficinas.

Ter-se e dar-se é o comum tornado magnífico
ao garimpar ferros-velhos
como também em busca de sentidos
e desenhos de palavras,
para surfar na descoberta de latarias
onde recortes de maçarico fazem as vezes da junção
e placas moldadas em poliuretano podem fechar a boca
e esperar contextos
mas os consertos e carregamentos não esperam,
e já estão em outra
a cada nova unção da noite que se prepara à deitar,
sendo novas rotinas as únicas que dispensam o novo!?

Então estarão muitos cagando regras de como se relacionar
numa ode direta e simples de raiva,
um prontuário de recalques e entradas sociais permitidas:
_ Os incomodados que se retirem ou
os incomodantes que se redimam?
Pergunta-se:
quem veio para incomodar, inconformar, descondicionar,
destrancafiar,
senão o poeta, os proscritos e profetas,
como Jesus
pregando contra a usura de seu próprio povo,
e as meninas da vida de lida dura
exigindo seus direitos trabalhistas?

Estarão as mocinhas de família fadadas a descobrir
que seus reinos inundam-se de chavões em primeira
instância fantasiosos,
carregados de prerrogativas fru-frus
fechados em dinastias temperamentais
de terem direitos naturais e herdados
preconcebidos diante de suas próprias intolerâncias
de familinha, familhão?

Se assim for, alguém tem de fazer o serviço sujo
de ficar chutando o ar no cais baldio,
mãos nos bolsos,
de olho no que ninguém quer ficar,
falando mentiras que são verdades bem contadas
e/ou não a verdade dos sacos de cereais deitados ao chão
pelos carregadores nos terminais de redistribuição
para o consumidor final.
Estará a verdade apenas nesses sacos
e tudo o que predisponho não passa
de solidão alimentada?
E se caso essa última sim for a verdade,
onde fica a fome em pleno século de
rede e globalização,
em plena era de tudo a um clique de distância?

Acaso essa for uma boa pergunta, afinal
caberia a resposta na pirataria engravatada,
transnacionalizada,
acionista e latimonetária?
Essa tal de minoria 1% do mundo?

Como num blues seco e doído de Freddie King
sunchine sunchine is all all you see now
do fundo da alma
but it all like cloud to me
tudo pode ficar azul num átimo
ótimo de solilóquio naveguidão
que vamos inacabados por aí,
retardatários das alegrias.
É Freddie, bate doído o lanho das cordas secas de sua guitarra,
sunchine is all you see now,
continuaremos essa cabotinagem de poetas vira-latas
atravessando rios e comendo piranhas
que
ao mesmo tempo
nos devoram
que isso sim
é tragar a fumaça da manhã chuvosa
do céu de quem caminha em periferias despatriadas
corda bamba da filosofia de botequim,
a melhor e a mais real delas.

Mas a realidade é bem maior e foi feita para ser falsificada
porque basta acreditar que as guerras são geradas para o lucro
guerras embaladas prontas para entrega
que de novo tudo começa
com crianças crescendo nas brincadeiras de praça
a roda do mundo girando sem parar
e ouve-se o som festivo delas brincando,
mães próximas
com sua missão única de enredarem-se para suas crias:
jamais entenderei um tempo onde mortes de guerra são faturas
e os negócios vão muito bem, sim senhor.

Com o serviço e as mãos sujas,
restou para nós
remoer o cais baldio, chutar o ar,
roer os ossos do pensamento
sem remissão
e sem aceitar essa realidade contrabandeada.

Você aceita o convite do cais baldio?

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

FILHAS (OS) DE PORRA NENHUMA ( Edu Planchêz )

Novo poema do poeta-amigo EDU PLANCHÊZ!

Nossa! Nunca veio tão a calhar, em tempos do massacre de cobertura que a mídia fez para os atentados terroristas em Paris, sendo que na véspera houve outro atentado praticado pelo ISIS em Beirute (Líbano) com 40 mortos, sem falar no da Nigéria com mais de mil mortos na mesma semana ... Esses passam batido pela mídia. O sensacional só acontece quando é no primeiro mundo ou em cidades de nível globalizado do terceiro mundo ...

O último verso desse poema diz por si só:


"E foda-se essa civilização eunuca
gestada pela gosma televisiva;
que todos se dopem com essas palavras
arrombadas filhas de porra nenhuma
"



Segue o poema completo do Planchêz para deleite de quem está de verdade no mundo!

FILHAS (OS) DE PORRA NENHUMA ( edu planchêz )
Apago todas as minhas palavras com palavras,
já que não paro de falar,
que a tagarelice se opõe ao meu silenciar,
e é entre as palavras que encontro silêncio,
que abro um novo portal,
estou a empurrar a emperrada porta da existência,
The Doors 1967 rasgando os nenhum motivos
para manter vivo em mim o último passado
de paixões complexas,
Jim Morrison grita, eu grito,
grita Diego El Khouri e Alvaro Nassaralla,
grita Tiça Matta, grita Catarina Crystal,
grita Rosa Maria Kapila
e todos os outros filhos da argila

Nascidos no barro, na borra,
na mancha alucinada William Burroughs,
nascidos e morridos,
em decomposição composição cósmica humana

Viemos da fumaça da mais deliciosa maconha,
agarrados no rabicho, no filete da lâmpada,
ou mesmo das catapultas das paredes
do cérebro metáfora Renato Russo...
e o Doors segue solto
pelas flanelas orientais
que nos acaricia
o sexo e os ouvidos

Mas voltando a tagarelice,
e o silêncio estrondo ejaculado por ela,
voltando ao pináculo da alta floresta do darma
de nada fazer sentados nus no muro das herdades

Pelos meandros dos esmiuçados olhos
que nos unem ao porrete, a porra,
ao dramático e arrombante rock sem pai nem mãe

E foda-se essa civilização eunuca
gestada pela gosma televisiva;
que todos se dopem com essas palavras
arrombadas filhas de porra nenhuma

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sarau Corujão da Poesia - 10 anos de resistência poética no coração do Leblon





Esse mês, o sarau poético Corujão da Poesia - Universo da Leitura comemora dez anos de vida. Realizado religiosamente às terças-feiras, excetuando-se os feriados, o Corujão é organizado pelo professor João Luiz de Souza (mais conhecido como João do Corujão) e tem apoio da Universo (Universidade Salgado de Oliveira).

O sarau é apadrinhado por ninguém menos que Jorge Ben Jor. Volta e meia o "mestre", como nós o chamamos, dá as caras por lá e assume o comando do microfone.

O mestre Ben Jor e as pessoas que receberam os livros sorteados do dia.  (Foto: Vitor Vogel)

Muito consciente da importância de realizar um Sarau semanalmente e, também, como uma ponta de lança avançada no coração do Leblon, João do Corujão é o primeiro a levantar a bandeira da poesia:

"São 10 anos de OCUPAÇÃO POÉTICA e de ARRECADAÇÃO/LIBERTAÇÃO DOS LIVROS, num bairro onde MUITOS diziam: "no Leblon, tudo é moda, tudo é passageiro", só que esqueceram que no LEBLON, BELÉM, CAPÃO REDONDO, RECÔNCAVO BAHIANO ou quaisquer outros locais, "o ser humano tem fome de POESIA", tal como os filósofos e psicanalistas sempre nos disseram. Um abraço irmão em CorujaodaPoesia Universo da Leitura".



Poeta recita ao microfone (Foto: Vitor Vogel)

A missão completa-se não apenas levando a mensagem da leitura e sorteio de livros através do sarau, mas também arrecadando doações de livros que são repassados para escolas públicas, casas de detenção, asilos, etc. Vou ver quantos livros foram arrecadados e doados nesses dez anos, mas o próprio João Luiz dá uma ideia nesse trecho postado no Facebook:

"O que podemos dizer quando ganhamos MIL LIVROS no DIA NACIONAL DO LIVRO para serem LIBERTADOS em mãos de CRIANÇAS que não podem comprá-los? Gratidão Instituto Maia Vinagre! Gratidão Professor Marcelo Mocarzel e Equipe! Os livros arrecadados farão a diferença nas vidas de MUITAS CRIANÇAS!!!"



João do Corujão 'mandando' seus antenadíssimos recados (Foto: Vitor Vogel)


O Corujão é realizado todas as terças-feiras, de 21:00 h a 0:00 h na Livraria Saraiva (Avenida Ataulfo de Paiva, 1231 - Leblon, Rio de Janeiro ).

Encerrando, como o próprio Professor João Luiz diz, "No corujão tem microfone aberto, música, poesia, leitura, performance, libertação dos livros e abraços garantidos".