sexta-feira, 29 de abril de 2016

Poética - Pedro Tostes


Jardim Minado - Pedro tostes - Editora Patuá
A poesia é mesmo caso sério:

vez por outra vai parar no cemitério.

E sempre volta, como um

zumbi literário.


A poesia brasileira anda broxa,

não mata a cobra,

esconde o pau

e espera ansiosamente pelo

próximo edital.


A poesia brasileira contemporânea

é esquizofônica;

uma hora fala duro,

na outra difícil (e demonstra

pouca propensão a atirar-se

de edifícios).


A poesia brasileira corrente é polida,

faz foto pro cartaz, gosta

de ser notícia no jornal, do caderno

de resenhas, é bonita

limpinha, correta e erra pouco.

Fuma mas não traga,

estupra mas não mata

e tá sempre em cima do muro.


O poeta? Que se foda! Ele que morra duro.