sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Poetas irmanados


Como em uma irmandade, estamos sempre movimentando as energias criativas de nossas percepções em torno das pessoas que nos inspiram e que se mantêm em alta sintonia de alma.  Nesse sentido, Edu Planchêz, poeta radicado no Rio de Janeiro – algo como um dos meus extravagantes preferidos (não que me exclua dessa adjetivação) – escreveu o poema abaixo para meu outro poeta irmanado, Diego El Khouri.

Esse ano também escrevi um poema para o Planchêz (que está por aí nesse blog há algumas postagens atrás, rs) e em anos anteriores ele me escreveu um. Acredito que o reino dos poetas que não buscam agradar aos conceitos burgueses naturalmente se reúnem como uma forma de sentirem-se pertencentes em um mundo estranho.

Falei e agora posto o poema do Planchêz, também publicado no blog de Khouri, intitulado Molho Livre, o qual está lincado no fim dessa postagem para que você possa visitar e conhecer.


 


DIEGO EL KHOURI, VELHO IRMÃO DE PAJELANÇAS
Por: Edu Planchêz


Diego El Khouri, velho irmão de pajelanças
e caramujas sonolências,
de arbustos e tonéis de ácidos,
aqui vivendo os zunidos das horas, o arrulho da pança
alimentada pelo queijo que acabei de roubar,
continuo o mesmo Zapata, pistoleiro súbito,
homem-tarantula das negruras,
espinhoso escaravelho

Alvuras nas quentes redes dos arcos
onde a iris se esconde,
onde me escondo com minha ama de leite,
das ladroagens da morbidez dos roedores de dinheiro,
da astúcia ornamental dos mulambos da velha família
oriunda da formiga cortadeira e do coco do bandido
do cavalo que nunca leu nem bula de remédios

Caro amigo, os azulejos do nada pestanejam
cá nas ganancias de ver-te em breve
envolto em anéis de ardumes
e sedas embebecidas de perfumes


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Conheçam o blog do poeta, pintor e fanzineiro dos unders legal, Diego El Khoury, no link: MOLHO LIVRE.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Breve convocação para quebrarmos a matrix



A. Nassaralla (jul/16)

Classe média absoluta
dá-me teu nojo
tua soberba (com fundo falso)
tuas contradições abertas bem embaladinhas
e a novidadeira fútil das suas delícias de butique
tudo dentro do café requentado das ilustríssimas modas


Vá varrer toda a sucata dos dias para baixo do tapete
como varre o restante de hipocrisia
com o qual se reverencia
e perfura seus relógios com distrações de grife,
euforias de estirpe comprada
luxúria de luxo alugado
fazendo de tudo para escapar da referência média
medida social para que a destaque dos habitantes da pobreza


Bichinho de pelúcia
das provas sociais de ascensão.
Sente-se escolhido
dentro de uma ilusão barata e semi-precária,
com suas batalhas que já começam perdidas
em poderes de consumo no crédito oportuno,
rezando terço ou ao relicário para que no fim do mês
os santos o ajudem a saldar despesas contraídas
sempre ao ego concedida
como empréstimo de ostentação
financiada a juros


Classe média absoluta
dá-me o bagaço do que ao rico já entreteve e
agora por pura cópia do que antes não tinha acesso
consome como xepa de shopping ou tour de viagem
um montante de produto e entretenimento alienado
na derradeira tentativa de comprar
a prova social da novidade amarrotada
que você tanto anseia e estima
sem se dar conta de que a mercadoria
com a etiqueta de idiota
é sua próprio CPF, sua própria vida,
sua alma arrendada