Tardes Poemas: Tarde em Arabescos

Apresentação

Ziraldo /1999

Não acho que seja uma boa recomendação para jovens poetas. Minhas palavras podem estar muito longe do que eles querem ouvir e mais distante ainda de um julgamento de quem sabe se deixar tocar pela poesia. Ou pela Poesia. Durante muito tempo acreditei que podia ser crítico literário, principalmente no que se referia à criação poética. Até que o Jaguar, meu parceiro do Humor e do Cartum, leu o que escrevi e me disse: “Você pensa que entende de poesia”.

Por essa razão, quando o jovem Álvaro me procurou para que fizesse a apresentação de seu livro, mais que honrado, fiquei temeroso. Não vai dar certo, Álvaro. Poesia é uma coisa muito complicada. Depois, lembrei-me de outro velho colega de Pasquim, o Ivan Lessa, que passou todo o seu tempo de jornal a perguntar se a poesia era mesmo necessária. Quanto a isso, Ivan, eu tenho certezas. Ela é.

Está chegando aí o Terceiro Milênio e os poetas continuam sofrendo e proliferando. Chega um momento em que não é possível viver sem que a palavra emerja de nossa alma em forma de poesia. Porque ela – a Poesia, ora – não se explica.

O poeta é um fingidor, já dizia o nosso português maravilhoso. E, Drummond, fingindo, segue aconselhando: “O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia”. E o que é poesia, poeta? Me diga, se, durante toda a sua vida, toda a matéria que você nega nesse arrasador poema é a matéria da sua poesia?

O Álvaro deve ter enlouquecido. Mas sobrevive aqui, fazendo versos que são pura confissão, dolorosa, às vezes, e cheio de esperança e perplexidade. São muitas as formas de poesia e de mentira. Para ser um poeta completo, a única coisa que falta ao Álvaro é mentir.